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O feminicídio que marcou a história da música brasileira: o caso Lindomar Castilho

21/12/2025 11:18
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Por Redação
O feminicídio que marcou a história da música brasileira: o caso Lindomar Castilho

Em 30 de março de 1981, o Brasil foi surpreendido por uma tragédia que misturou música, ciúmes e violência. O cantor Lindomar Castilho, conhecido como o “rei do bolero”, assassinou sua ex-esposa, a cantora Eliane de Grammont, em um crime que se tornou símbolo da luta contra o feminicídio no país. Mais de quatro décadas depois, o episódio continua sendo lembrado como um marco na discussão sobre violência doméstica e direitos das mulheres.

O crime e suas consequências

Na noite do assassinato, Eliane se apresentava no Café Belle Époque, em São Paulo, quando Lindomar invadiu o local e disparou cinco vezes contra ela. O músico Carlos Randall, primo de Lindomar e acompanhante de Eliane no palco, também foi ferido. A cantora morreu na hora, deixando uma filha pequena, Lili de Grammont, com apenas 1 ano e 8 meses.

O crime foi motivado por ciúmes e pela não aceitação da separação. Lindomar foi condenado a 12 anos de prisão, mas cumpriu apenas cerca de 3 em regime fechado, passando depois ao semiaberto. Na época, sua defesa tentou usar a tese da “legítima defesa da honra”, argumento comum para justificar crimes passionais. O caso expôs a fragilidade da justiça diante da violência contra mulheres e gerou protestos feministas em várias cidades brasileiras.

A repercussão social foi intensa: organizações de mulheres denunciaram a impunidade e exigiram mudanças na legislação. Décadas depois, o Supremo Tribunal Federal rejeitou definitivamente a tese da “defesa da honra” como justificativa para feminicídios. A memória de Eliane se tornou símbolo da luta contra a violência doméstica, enquanto sua filha cresceu marcada pela ausência materna e pela dor do crime.

O impacto na carreira e na sociedade

Lindomar Castilho, que havia se consagrado com sucessos como “Você é doida demais” e “Tapas e Beijos”, viu sua trajetória artística ser destruída. Gravou novos discos após cumprir parte da pena, mas nunca conseguiu recuperar o prestígio de antes. Sua imagem ficou para sempre associada ao feminicídio, tornando-se exemplo de como um crime pode apagar uma carreira brilhante. Recentemente, após a morte de Lindomar em 2025, Lili de Grammont declarou que o pai “também morreu em vida” ao assassinar sua mãe. Em suas palavras: “O homem que mata também morre. Morre o pai e nasce um assassino, morre uma família inteira”. Ela afirmou ainda que Lindomar carregava uma masculinidade tóxica e que sua vaidade e narcisismo o desviaram do caminho humano

O caso de Eliane de Grammont é frequentemente citado em debates sobre feminicídio, pois mostra como a violência contra mulheres não pode ser tratada como “crime passional”, mas sim como resultado de desigualdade de gênero e machismo estrutural. A palavra-chave feminicídio sintetiza não apenas o crime, mas também a luta que se seguiu. Mais de 40 anos depois, a tragédia continua ecoando na sociedade brasileira como um lembrete de que a música, a arte e a vida não podem ser silenciadas pela violência.

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